APRESENTAÇÃO
SEMENTES DE LIBERTAÇÃO
O Brasil, como muitos países da América Latina, foi arrancar gente da África para o trabalho escravo nos cafezais, cultivo da cana de açúcar e no trabalho da mineração. Trabalho pesado e exigente. Era a exploração da mão de obra barata e sem compromisso com a vida de tantos.
Quantos que chegaram ao Vale do Ribeira sem direitos, apenas deveres! Humilhados, maltratados e depois abandonados. Uma página da história do nosso país de dor, sofrimento e maus tratos. Escravidão nunca mais!
Dança, música, canto, vida, alegria de viver, construir a família, realizar a história, poder trabalhar eis a busca da libertação.
No final do século, as Comunidades Remanescentes de Quilombos do Vale do Ribeira se organizaram. Fizeram suas Associações; escreveram seus estatutos; fizeram memória; acreditaram, defenderam e salvaram sua cultura. Enfim, surgiram sementes de libertação!
No envolvimento desta trajetória de libertação se fizeram presentes, as Irmãs Pastorinhas, na pessoa de Irmã Ângela Biagioni e Irmã Maria Sueli Berlanga que juntamente com as comunidades criam o MOAB-Movimento dos Ameaçados por Barragens no Vale do Ribeira, que há 25 anos revela uma História de Resistência. Com a bandeira “Terra Sim! Barragem Não!”, defendem a cultura, o povo, o meio ambiente, a vida. Seguem avante na certeza de reafirmar a importância de continuar mobilizados e de cabeça erguida, unidos, articulados e firmes na luta contra o projeto de construção da barragem de Tijuco Alto. Confiam, sem nenhuma dúvida, que é uma luta justa! Nela defendem o chão, a dignidade, a vida, a história e a libertação.
Em seguida surgiu também o EAACONE - Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira. Esta Entidade provoca a reflexão, aglutina as Associações e Comunidades Quilombolas a seguirem fazendo sua caminhada histórica, com o resgate da auto-estima, que se traduz em terra reconhecida e titulada, comida na mesa, educação para os filhos e lazer: fazer festa, dançar a noite inteira.
A EAACONE está sempre atenta, pois as comunidades continuam sendo ameaçadas, hora como vítimas da fiscalização intensa e violenta que dificulta a prática agrícola, hora pelos parques que atravancam a cultura de subsistência. É preciso estar atentos na organização e articulação, no incentivo para buscar alternativas de desenvolvimento econômico, cultural, educacional e social das Comunidades Quilombolas.
Que este trabalho ajude os quilombolas e o povo do Vale do Ribeira a continuar construindo sua história.
D. José Luiz Bertanha
Bispo Diocesano de Registro, 31 de Julho de 2014