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O RESGATE HISTÓRICO

A Pesquisa Científica

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O Mestre Guilherme dos Santos Barbosa, etnólogo que orientou e coordenou a pesquisa científica das Comunidades de Quilombos de Ivaporunduva, São Pedro, Praia Grande e Pilões. Essa pesquisa que sustentou o processo judiciário de reconhecimento das Comunidades Remanescentes de Quilombos e suas terras.

Em março de 1.992, em um Encontro de Religiosos Negros em São Paulo, Irmã Ângela encontra o etnólogo Guilherme dos Santos Barbosa e mostra a ele sua preocupação com as Comunidades do Vale do Ribeira. Nem foi necessário entrar muito em detalhes, pois ele estava trabalhando em algumas dezenas de casos como esse pelo Brasil inteiro. Embora não tivesse muita condição de assumir mais esse caso, mas diante da angústia da Irmã Ângela, decidiu estudar uma saída junto aos demais membros do grupo.

O etnólogo mostrou-se interessado na causa das comunidades, porque seus estudos e pesquisas são exclusivamente sobre comunidades negras. Como membro da Comission on Urgent Anthropological - Viena/Áustria que se dedicou à pesquisa de grupos em risco de extinção, assumiu o trabalho nas comunidades do Vale do Ribeira. Ele veio para a cidade de Registro onde conheceu a Irmã Sueli, o Pe. Arinildo, Pe. Miura, as agentes da CPT, Sandra Paulino e Ilma, o seminarista Fabio e a agente do MOAB, Silvani Cristina Alves, engajados no Movimento. Em duas reuniões em Registro acertaram os detalhes e em 2 de maio de 1.992 iniciou-se o curso de uma semana para o treinamento da equipe de trabalho para realizar a pesquisa de campo sobre a supervisão do etnólogo.

Assim iniciou-se a pesquisa cientifica em junho de 1.992. Até 1.993 foram pesquisadas oito comunidades. Dessas, foram escolhidas quatro para a elaboração do estudo cientifico: Ivaporunduva e São Pedro no município de Eldorado, Praia Grande e Pilões no município de Iporanga.

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O topógrafo João Máximo fazendo a medição das terras. É necessário provar que as comunidades são remanescentes de quilombos

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Buscar dados comprobatórios. Edu Nolasco de França, um dos entrevistados do Quilombo São Pedro. Fevereiro de 1.993

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Em 1.992, Dona Antonia Vitorina, aos 87 anos, da Comunidade Porto dos Pilões, quando foi entrevistada para a pesquisa etnológica

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Ir. Sueli entrevistando Lourdes Morato da Comunidade São Pedro

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Padre Arinildo Aparecido de Souza trabalhando na pesquisa científica. Precisou de um saco para carregar os documentos

Identificando-se com a história

Enquanto se realizavam os estudos, as outras comunidades negras foram tomando contato com suas origens e se reconhecendo como Remanescentes de Quilombos.

Em maio de 1.992, com a assessoria do Frei Davi Raimundo dos Santos aconteceu o primeiro encontro das comunidades negras em Ivaporunduva e circunvizinhanças. Começava o estudo da história do negro desde sua origem.

Frei Davi Raimundo dos Santos colocou para as comunidades ali presentes os sete Atos Oficiais que decretaram a marginalização do negro do Brasil.

  • Bula Papal: assinada em 16/01/1.452 pelo Papa Nicolau V, dirigida ao rei de Portugal, permitindo invadir a África e capturar os negros.

  • Constituição Brasileira de 1.824: é proibido frequentar as escolas, pessoas doentes de lepra e os negros.

  • Lei da Terra de 1.850: proibia ter terras quem não tivesse documentos. O negro não tinha documento, ele era propriedade do Senhor.

  • Guerra do Paraguai: Era prometido ao negro que fosse para a Guerra do Paraguai, no seu retorno terra para plantar. Eles sempre ficavam na frente da batalha. Foi um massacre. Foram mortos cerca de um milhão de negros.

  • Lei do Ventre Livre: a criança que nascia era livre, mas os pais eram escravos: a criança era abandonada.

  • Lei do sexagenário: após 60 anos o escravo era livre. Mas nessa idade devido as péssimas condições de vida, o negro já não conseguia produzir e por isso era colocado fora da fazenda.

  • Decreto das imigrações européias: com o objetivo de embranquecer a população brasileira, o governo abre espaço para as imigrações italiana, alemã e portuguesa.

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Em maio de 1.992, na Comunidade de Ivaporunduva começava o estudo da história do negro no Brasil. Frei Davi foi o assessor

Essa foi a primeira vez que os negros da região ouviram esse relato histórico.

Em maio de 1.993 no segundo Encontro das Comunidades Negras para conscientização, também realizado em Ivaporunduva, foi dado continuidade ao estudo da história e introdução da liturgia afro-brasileira. A celebração afro-brasileira ganhou destaque nas músicas, danças, instrumentos e vestes. Ivaporunduva foi a comunidade que mais absorveu os ensinamentos e a primeira a celebrar culto afro-brasileiro nas festas da Comunidade.

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Laurindo do Quilombo de Praia Grande, no encontro


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Pedras arranjadas na construção de cercos no período da mineração

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A capela e o antigo cemitério construídos pelos escravos em Ivaporunduva revelam a história

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O sino da Igreja de Ivaporunduva forjado pelos escravos

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Mesa construída pelos escravos guardada como relíquia em Ivaporunduva

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Mocambo feito de pau a pique e barro. A avó e o neto: a história continua

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Os Quilombos ficavam sempre em lugares de difícil acesso

Quilombo

“Uma definição não é eterna, mas é necessária enquanto dure”. - Mestre Guilherme dos Santos Barbosa

O termo “Quilombo” é uma expressão usada no Brasil para definir uma organização comunitária ou agrupamentos de negros descendentes de escravos africanos. Não era até então um nome muito conhecido entre os moradores das comunidades. Era um termo que se ouvia na escola quando se estudava o Quilombo dos Palmares.

O que nós aprendemos na escola é que Palmares, o Quilombo mais famoso da história brasileira era uma região de fuga, resistência e confronto direto com forças governamentais. Mas nem todos que foram para Palmares eram guerreirros. Nem todos os Quilombos se constitui só de fuga ou mantinham guerra com os brancos. Quilombo se forma por fuga, abandono, doação de terra como aconteceu no Vale do Ribeira: os negros que trabalhavam na área de mineração, com sua decadência ou abandono pelos seus senhores mineradores adentraram para o interior da mata cultivando a terra com agricultura de subsistência, onde o branco não pudesse vê-los. (Negros em situação ilegal, fugidos ou abandonados quando encontrados deveriam ser reconduzidos ao cativeiro).

Atualmente Quilombo tem um significado mais amplo: Quilombos são organizações comunitárias constituídas de negros descendentes de escravos africanos reunidos em mocambos, isto é, casa de barro coberta de palha, construídas numa área geograficamente estratégica chamado de “Cafundó” onde formaram famílias, criaram comunidade com seus costumes, tradições e cultura.

Cafundó é uma palavra muito utilizada na expressão “Cafundó do Judas”, que quer dizer um lugar que todo mundo sabe que existe, mas não sabe onde fica. Esta é uma característica dessas organizações comunitárias, uma vez que Cafundó é “lugar de difícil acesso” “lugar muito longe” ou como dizem os próprios quilombolas do Vale do Ribeira “lugar dificultoso”.

Hoje não precisam mais se esconder, mas ali resistiram, formaram famílias; mantêm estreita relação com a terra e com todos os moradores da comunidade numa situação de parentesco. Parentesco entre os negros não é somente de sangue, mas de terra, destino, mesma história.

Com a Lei Áurea de 13 de maio de 1.888, os Quilombos perderam sua função (abrigar escravos fugidos), não são mais clandestinos, portanto não mais Quilombos; passam a traduzir “Remanescentes de Quilombos”. Como remanescentes começaram a se organizar e passando a ter um relacionamento maior com a sociedade branca por processos de interação, mas sempre mantendo interdependência no que tange a organização social, relações internas das comunidades, característica dos Remanescentes de Quilombos do Vale do Ribeira.

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"Quilombos são organizaçãoes comunitárias essencialmente denegros, constituidos por reunião de mocambos, construídos num ponto geograficamente estratégico, chamado CAFUNDÓ". (Mestre Guilherme dos Santos Barbosa - Etnólgo)

Pelas áreas de chão batido, espalham-se pequenas casas de pau a pique: são os mocambos

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A vida tradicional das Comunidades de Quilombos

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Fogão de taipa feito de barro socado. Característica em todos os mocambos

Ao se instalarem em áreas livres, os ex-escravos plantavam arroz, feijão, milho, mandioca, batata doce, abóbora, para subsistência e vendiam o excedente. Baseada na mão de obra familiar a exploração agrícola asseguraram os produtos básicos para o consumo familiar e em pequena escala no comércio com os brancos. Ainda criavam animais de pequeno porte, praticavam a pesca nos rios para complementação da dieta alimentar e secundariamente na constituição de uma reserva de recursos imediatos para suprir as necessidades eventuais e urgentes.

A queimada é o costume dessas comunidades tradicionais na formação das roças. Plantava-se um ou dois anos numa área e deixava-se a terra descansar por 5 a 8 anos, para só então voltar plantar na mesma área, evitando o esgotamento da terra.

Quando foram criados pelo Governo os Parques para preservação da floresta e do meio ambiente, os quilombos ficaram incrustados nas áreas demarcadas no Estado de São Paulo.

As leis ambientais impediam a derrubada do mato que crescia na área que estava em descanso, obrigando as pessoas a utilizar sempre a mesma área para o plantio onde a terra já esgotada produz cada vez menos até não pruduzir mais nada sem o auxílio de adubos. As leis ambientais colocaram muitas restrições às comunidades que por muitos anos foram as responsáveis pela preservação da mata, o relacionamento com a natureza e a maneira de utilizar a terra. A tomada de consciência de seus direitos levou à reivindicação do retorno a queimada para a limpeza da área de roças de coivara visto que não possuem ferramentas adequadas para efetuarem a limpeza da terra para o plantio.

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Torrando no forno a farinha de mandioca

O trabalho na roça é executado pela unidade familiar: pai e os filhos mais velhos. A mãe faz a comida e ela ou filhos menores levam ao local onde estão trabalhando. Na época da colheita o serviço é feito em mutirão. O mutirão era um costume praticado em todos os bairros da zona rural. Ainda hoje encontra-se essa prática, embora rara. A questão do custo é a explicação mais provável para justificar o abandono da prática do mutirão. É menos dispendioso pagar pessoas para fazer certas tarefas do que fazer mutirão. No passado, as famílias produziam tudo o que necessitavam, podendo fazer o mutirão e a festa de encerramento porque não precisavam comprar o que consumiam. As famílias eram praticamente suficientes. A diminuição das terras agricultáveis, o surgimento do trabalho assalariado, a partida dos jovens para a cidade para estudar ou procurar outras oportunidades de trabalhos, a adoção de novas necessidades, cuja satisfação passou a depender cada vez mais de dinheiro, tornou difícil a realização do mutirão.

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Pilando o arroz

Mutirão

O Mutirão ou “puxirão” como é falado o termo corrompido, é uma forma de trabalho cooperativo das comunidades rurais. Quando a realização da tarefa (derrubada, roçada, plantio, colheita, construção de casa...) supera no tempo aprazado à capacidade familiar, os vizinhos são convocados para ajudar a executá-lo em um dia de serviço.

A família beneficiada, nesse dia oferece alimentação do café, almoço e jantar aos trabalhadores. A noite, acontece um baile para os participantes do trabalho e suas famílias.

Não há remuneração, apenas o compromisso moral do beneficiado de atender ao chamado quando for convocado por outra família. Este chamado não falta, porque é praticamente impossível para um lavrador que só dispõe de mão de obra familiar, dar conta de certas tarefas no prazo curto para execução.

Uma pessoa que quer fazer uma roçada, derrubada ou plantio, junta umas 20 ou 30 pessoas e tem o serviço acabado em um dia. Quando a roça é grande, o arroz está maduro é preciso ser colhido rápido, para não se perder. Geralmente o mutirão se dá num fim de semana. Quando a tarefa é construir uma casa (casa de pau a pique) juntam- se as pessoas e fazem-na rapidamente. Trabalha-se sexta e sábado e encerra-se com baile na noite de sábado. Para esses serviços, são chamados os homens e as mulheres. Os homens vão para a roça e as mulheres vão ajudar na cozinha.

No baile a noite, a sanfona. a viola, o cavaquinho e o pandeiro funcionam até o sol raiar.

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Mutirão preparando a roça para o plantio

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Levando a comida na roça

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O baile para dançar a noite toda

Dança de São Gonçalo

A dança de São Gonçalo é de origem portuguesa. São Gonçalo era considerado em Portugal um santo casamenteiro das velhas. A dança era realizada na cidade de Amarante, a princípio dentro da igreja.

A dança veio com os portugueses no tempo da colonização e pode ser encontrada em várias regiões do Brasil. No município de Eldorado é encontrada nas comunidades rurais em diferentes momentos: pagando promessa, pedido para superar dificuldades, doenças e a gradecimento pela colheita. No agradecimento pela colheita, a dança é realizada durante o baile do encerramento do mutirão. O ritual da dança é assim: coloca-se junto à parede da sala um altar com a imagem do santo; forma-se uma fila dos casais ao som da viola e do cantador; os casais vão fazendo a evolução sem dar as costas para o altar e ao chegarem em frente a imagem do Santo inclina-se para reverenciá-lo. Os casais seguem dançando pelo salão e a coreografia se repete.

A dança de São Gonçalo tem algumas variações de uma comunidade para outra.

Na Comunidade Remanescente de Quilombo de Praia Grande, município de Iporanga foi presenciada pelas Irmãs Sueli e Angela que também dela participaram. Segundo Ir. Sueli, a dança de São Gonçalo foi apresesentada em 13 voltas. A dança é feita todos os anos após a colheita do arroz, feijão, milho.

Ir. Sueli mencionou aspectos importantes observados durante a dança: a promessa é feita por uma pessoa da comunidade, mas todos ajudam aquela pessoa a pagar a promessa: o santo, São Gonçalo é chamado por eles de meu companheiro, meu amiguinho.

A dança se estende pela noite toda e vai até o dia raiar, até as pessoas dançarem as 13 voltas. Elas não param para não quebrar a promessa.

A dança de São Gonçalo é para a comunidade um momento em que mistura alegria, partilha e fé.

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Dança de São Gonçalo no Quilombo de Praia Grande - Iporanga

Coivara

A coivara era o processo de preparação da terra onde seria realizado o plantio, adubando-a com as cinzas da queimada.

Na época de clima mais seco, o chefe da família e seus filhos maiores, na área onde ia ser a roça, faziam a derrubada da vegetação, o desbaste, o aceiro e deixavam secar. Após 30 dias de sol faziam a primeira queimada. A coivara éa segunda queimada do que sobrou da primeira. O plantio era feito imediatamente após a segunda queimada.

O primeiro produto a ser plantado em um roça recém aberta era normalmente o arroz, muitas vezes em consórcio com o milho, em carreiras alternadas, colhido cerca de três meses após o plantio. O milho era colhido normalmente após cerca de quatro meses e meio do plantio. Após a colheita do arroz ou do milho, no caso de culturas conjugadas, carpia-se o terreno da vegetação rasteira e plantava-se imediatamente o feijão. Quando não havia plantado o milho conjugado com a arroz anteriormente, o plantio do feijão era conjugado com o do milho. A colheita do feijão era realizada antes da época das chuvas. Essas roças eram feitas normalmente distantes do local de moradia. Após três anos de plantio contínuo o terreno era posto em descanso.

Essa terra era posta em descanso por período de 3 a 12 anos, para reconstituir os nutrientes do solo: a formação de uma cobertura vegetal, solo e barro denominada de capoeira ou capuava essencial para que possa ser novamente utilizada.

A religiosidade também faz parte da vida das comunidades

A religiosidade é também parte integrante de seu convívio social. A festa religiosa tem a participação das comunidades vizinhas. É a oportunidade de encontros de jovens para se conhecerem e manterem relações que resultam em casamento.

Aos ritos religiosos católicos foram adaptados costumes e ritos africanos. A religião católica era exclusiva em tempos antigos, mas hoje as religiões evangélicas se fazem presentes nas comunidades.

Na Comunidade da Poça, Eldorado, o povo antigo costumava fazer a reza do terço nas casas de famílias; nos dias das festas dos santos, um ritual de beijar o altar e a imagem do santo ocorre no final enquanto cantavam o seguirite canto:

Chegai pecador contrito

Beijai a Santa Cruz

Pedindo misericórdia

A Nosso Bom Jesus

Ora ao meu Jesus

E a Virgem Maria

Se não fosse nossa Mãe De nós o que seria

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Procissão na festa da Santa Cruz em Porto Velho - Iporanga

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Festa do Padroeiro em Pilões - Iporanga

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Altar da Capela de Ivaporunduva construída pelos escravos, dedicada a Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos cuja festa celebram no mês de outubro, quando acorrem ao local todas as comunidades circunvizinhas. É um grande dia de festa da Comunidade.

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A partilha na celebração

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Festa da Padroeira na Comunidade Quilombola de Sapatu - Eldorado

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As mulheres fazem um mutirão na cozinha e depois da devoção ao Santo serve-se muita comida a todos os presentes. A noit ?? Comunidade de ?? Iporanga (página dobrada)

A Diversão

Fandango

É uma dança característica da cultura afro-brasileira, com a participação de homens, mulheres e crianças das comunidades litorâneas de Cananéia, Iguape e as vizinhas localizadas no estado do Paraná. Músicas típicas são cantadas com o acompanhamento de rabeca, violão e viola. Acontece principalmente quando há mutirão ou ocasiões de festas e comemorações.

A Comunidade de Morro Seco no município de Iguape ficou conhecida na região por apresentar-se com a dança do fandango em eventos culturais nos diversos municípios da região.

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Mulheres de Sapatu dançando Nha Maruca no encontro anual de mulheres em Eldorado

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A dança do Fandango - Quilombo de Morro Seco - Iguape

Folia de Reis

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A dança da Mão Esquerda - Quilombo Nhunguara - Eldorado

Também é registrada nas comunidades de Cananéia e Iguape. É uma manifestação em comemoração ao nascimento de Jesus, “dirigida pelos Reis Magos” para lembrar da sua visita quando Jesus nasceu. Entoando uma melodia, são cantados 25 versos durante as noites que antecedem o Natal. É uma harmonia entre vozes do folião, soprano e baixo, acompanhados pela viola, violão, rabecas e triângulos. Em geral, é acompanhada por um numeroso grupo de pessoas, em profundo silêncio.

Outras danças menos conhecidas são praticadas nas Comunidades Remanescentes de Quilombos: no município de Eldorado, a Nhá Maruca. Nhá Graciana, Passadinho, Mão Esquerda. São danças que já tiveram oportunidade de serem apresentadas nos encontros em vários lugares.

A Evolução nas Comunidades Remanescentes de Quilombos

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Mocambo - casa de barro coberto de palha.
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A mudança do mocambo de pau a pique coberto de sapé por casas de alvenaria estão por toda parte. Elas são necessárias e não descaracterizam a organização comunitária “Remanescente de Quilombo”
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O cavalo usado no transporte dá lugar ao veículo motorizado

Nas últimas décadas, vários acontecimentos concorreram para algumas mudanças na vida tradicional das comunidades Remanescentes de Quilombos. A estrada construida paralelamente ao curso do Ribeira pôs a descoberto várias comunidades intensificando o trânsito entre elas e o centro urbano o que trouxe algumas modificações no seu cotidiano.

A intervenção do Estado através da criação de áreas de proteção ambiental, estações ecológicas e dos projetos de construção de barragens provocaram reação das comunidades ameaçadas que conduzidas por seus líderes se organizaram em associações e movimentos em defesa da terra e da vida. O movimento de luta e resistência provocou mudanças nos costumes das pessoas das comunidades.

Os antigos e ancestrais mocambos estão em processo de mudança na construção resultando parte de alvenaria cobertos com telha e parte no sistema tradicioanal. A cultura popular que é uma manifestação dinâmica, após o advento do rádio, televisão, internet, celular alteraram antigas expressões culturais.

A expansão da cultura da banana que se espalhou rapidamente pelo médio e baixo Ribeira contribuiu para que os moradores abandonassem suas roças de subsistência, passando a adquirir produtos básicos que antes eram produzidos nas próprias unidades familiares.

Nos dias atuais sofrem influência de pessoas estranhas ao lugar, que as visitam para pesquisas. Da mesma forma as constantes saídas de pessoas da comunidade para compras de mantimentos, de jovens para estudo e trabalho externo provocam mudança de comportamento cultural, psicológico e social.

Mas o que permaneceu ?

A técnica da fazer farinha de mandioca, de certas comidas, de medicina popular, dos vocábulos, das festas. Permaneceu também o sentido de parentesco recebido de seus ancestrais. O parentesco entre os negros não é somente de sangue, mas também da sina, do destino, da terra em comum.

A miscegenação com outras etnias nessas comunidades é recente e são resultados de uniões por casamento com pessoas de fora.

Toda essa mudança não descaracteriza a organização comunitária “Remanescente de Quilombo”